Cineasta Adelia Sampaio: Uma Vida de Rupturas, Coragem e Humor no Cinema Brasileiro

Crédito: agenciabrasil.ebc.com.br

Às vésperas de completar 81 anos, a cineasta Adelia Sampaio celebra uma trajetória marcada por desafios e pioneirismo, que continua a inspirar a cultura nacional.

Em 1984, Adelia fez história ao se tornar a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil. “Amor Maldito”, sua obra de estreia, ousou retratar um relacionamento homoafetivo feminino em meio à ditadura militar, enfrentando a censura, o machismo e a falta de recursos financeiros.

Nascida em Belo Horizonte, a infância de Adelia foi vivida em um abrigo, após ser entregue à instituição pela mãe, que trabalhava como empregada doméstica. Anos depois, a família se mudou para o Rio de Janeiro, e o contato com o cinema despertou seu interesse.

“Eliana me levou com 13 anos ao cinema pela primeira vez, para assistir a Ivan, o Terrível, de Sergei Eisenstein. Eu saí encantada, feliz da vida, e falei: ‘Eu vou fazer isso’. Riram da minha cara, claro. Mas eu fiz”, relembra.

Sua carreira começou nos anos 60, como recepcionista em uma distribuidora de filmes independentes, onde aprendeu o ofício na prática. Aos 22 anos, Adelia dirigiu “Denúncia Vazia” (1979), seu primeiro curta-metragem.

“Ser mulher, negra e cineasta no Brasil é ser bastarda três vezes”, afirma Adelia ao refletir sobre as dificuldades enfrentadas.

“Amor Maldito” foi realizado com o apoio voluntário de amigos e profissionais da área, devido à falta de financiamento. Para viabilizar a distribuição, Adelia aceitou que o filme fosse classificado como pornochanchada, uma estratégia que garantiu o acesso às salas de cinema.

Apesar de sua relevância no cinema brasileiro, Adelia só tomou conhecimento de seu pioneirismo anos após o lançamento de “Amor Maldito”, através da historiadora e cineasta Edileuza Penha de Souza. Em 2016, Edileuza criou a Mostra de Cinema Negro Adelia Sampaio, que se tornou referência para realizadores e pesquisadores do cinema afro-brasileiro.

Adelia continua sendo uma inspiração para cineastas mulheres, negras, LGBTQIA+ e para uma nova geração de artistas.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

Veja também